quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um Fio de Esperança


Por Muriu Mesquita
Naquela manhã de 21 de Abril de 2006, Dia de Tiradentes, morreu um símbolo do futebol-arte nacional. Por causa dele, milhares de brasileiros puderam acompanhar times talentosos que, sob o comando do “Seu Telê”, jogavam um futebol bonito e ofensivo. Telê Santana partiu para lugares que a pesquisa científica ainda não definiu. Mas se há céu de verdade, e se a vida lá é justa e boa, como acreditam alguns, o mestre Telê foi recebido com alegria no andar de cima.


Como jogador, apesar do corpo franzino, era habilidoso, rápido, inteligente e bastante aplicado taticamente. Foi o primeiro a atuar pela ponta direita e recuar para ajudar na defesa. Fora das quatro linhas, se transformou em um símbolo do esporte nacional. Nos times por onde passou, transformava disciplina e determinação em resultados. Foi assim com a seleção nas Copas do Mundo de 1982 e 1986 (apesar dos Deuses do futebol, não permitirem essas conquistas ao mestre).
No dia em que chegou ao São Paulo, em 1990, ninguém acreditava que Telê pudesse fazer o que fez. O time estava desacreditado. A evolução foi tamanha que naquele mesmo ano o São Paulo, que disputava a série B do Paulista, sagrou-se vice-campeão brasileiro. A partir daí, a torcida tricolor se encheu de alegria. E de títulos. Telê comandou conquistas em torneios no Chile, México, Itália, Espanha e Estados Unidos. E não parou mais. Ganhou duas Libertadores, dois Mundiais Interclubes, além da Recopa e da Supercopa dos Campeões da Libertadores.
Comecei a acompanhar futebol em 1991. A paixão pela bola surgiu depois de ter ido assistir a uma partida do São Paulo contra o Bragantino. Passava férias na casa de uma tia, na paulicéia desvairada. Das arquibancadas do Morumbi, pude ver a simplicidade e determinação daquele senhor à beira do gramado. Ele mascava seu chiclete, gritava, incentivava os limitados, criticava os craques e fazia times razoáveis serem espetaculares.
No futebol moderno, onde os times prezam pela marcação forte e um número excessivo de faltas, a fim de anular a atuação dos craques, Telê deixou o seu recado: "atleta meu não dá pancada, joga futebol". Só pra ilustrar essa idéia, até o zagueiro Júnior Baiano, um tremendo perna-de-pau, jogou bola nos tempos de Telê à frente do tricolor paulista.
Em 1996, o ex-treinador sofreu um derrame, que pôs fim à sua atividade profissional e o deixou com a saúde debilitada.
Esta manhã nublada de Abril inspira uma singela homenagem em tom de saudade. Assim cultivo um "Fio de Esperança"* de que os dirigentes desta Nação sejam tocados pelo exemplo de humildade, disciplina e conduta moral, deixado por Telê Santana da Silva. Um brasileiro campeão no esporte e vencedor na vida.
*Em 1952, Telê ganhou o apelido de "Fio da Esperança", título de um filme que estava em cartaz nos cinemas. Fio devido ao pouco peso (apenas 57 kg). Esperança pelas qualidades como jogador e também pelas várias vezes que decidiu uma partida no finalzinho.
Muriu de Paula Mesquita - Jornalista em Natal

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